As percepções começam cedo e foi logo que eu descobri que o mundo era
muito diferente de mim. Fui aprendendo aos poucos, indignado, que
emprestar meus brinquedos era errado e que tirar a comida do meu prato
pra dividir com meus primos não era muito inteligente. Abraçar meus
amigos homens podia gerar comentários duvidosos e ficar com as meninas
não era um bom sinal. Enfim...tudo tinha um julgamento.
Resolvi
então ser igual a todo mundo, achando que assim ia me encontrar. Mas
fazendo parte do geral só acabei me distanciando mais e mais das partes
individuais que eu mais gostava em mim.
Me rebelei.
Queria ser distinto em tudo, avesso se fosse possível. E o destaque que
eu ganhei por ser díspar também não me nutriu. Então, esquecendo tudo
que haviam me dito minha vida toda, eu aprendi que eu tinha que ser
aquilo que ninguém nunca tinha conseguido me ensinar: o menino que
emprestava os brinquedos e dividia os pratos de comida.
E
foi só assim, me perdendo em atitudes que os outros desprezavam, que eu
me encontrei. O mundo é que passou a ser diferente de mim e não eu
diferente dele. Ou os dois, numa comunhão perversa desse universo onde
os insuportáveis se toleram e convivem.
Um universo onde ser diferente
nem é tão importante assim. O importante é fazer a diferença.