05 maio, 2012

Diferenças

As percepções começam cedo e foi logo que eu descobri que o mundo era muito diferente de mim. Fui aprendendo aos poucos, indignado, que emprestar meus brinquedos era errado e que tirar a comida do meu prato pra dividir com meus primos não era muito inteligente. Abraçar meus amigos homens podia gerar comentários duvidosos e ficar com as meninas não era um bom sinal. Enfim...tudo tinha um julgamento.

Resolvi então ser igual a todo mundo, achando que assim ia me encontrar. Mas fazendo parte do geral só acabei me distanciando mais e mais das partes individuais que eu mais gostava em mim.

Me rebelei. Queria ser distinto em tudo, avesso se fosse possível. E o destaque que eu ganhei por ser díspar também não me nutriu. Então, esquecendo tudo que haviam me dito minha vida toda, eu aprendi que eu tinha que ser aquilo que ninguém nunca tinha conseguido me ensinar: o menino que emprestava os brinquedos e dividia os pratos de comida.

E foi só assim, me perdendo em atitudes que os outros desprezavam, que eu me encontrei. O mundo é que passou a ser diferente de mim e não eu diferente dele. Ou os dois, numa comunhão perversa desse universo onde os insuportáveis se toleram e convivem. 

Um universo onde ser diferente nem é tão importante assim. O importante é fazer a diferença.