Inteligentíssimo.
E real.
Leia aqui.
29 novembro, 2009
12 novembro, 2009
Forte
O cachorro do meu irmão morreu.
Essa foi a notícia que recebi quando cheguei em casa, vindo do trabalho. Fiz algumas perguntas vagas, como se a minha displicência fosse me afastar de algum modo da consciência do fato. Foi em vão. Ficamos imersos na morte do cão.
Aí chegou o amigo do meu irmão, chamado exclusivamente para ajudar a carregar o cadáver do cachorro. Algumas introduções, algumas piadas, o convite. A resposta? "Desculpa, não vou por a mão nele não".
Meu irmão foi até a casa do cão com uma lâmpada, para ajudar a iluminar o local. Voltou logo. "Não vai dar, não vou conseguir, é muito triste" voltou ele dizendo, derrotado.
De repente, eu cansei. "Vamos lá então", disse eu. (Seja forte, seja forte...)
Na casa do cão, quando a luz quebrou a escuridao, lá estava ele. Era um Pit-bull, cara ameaçadora, dentes afiados, desconfiança plena de tudo e de todos. Mas já não era nada disso. Os olhos opacos eram meigos como nunca tinham sido em vida; as patas encolhidas, a boca aberta, os olhos apreciando infinitamente o asfalto.
(Seja forte, seja forte).
Dei um passo à frente. Me animei com a perspectiva de retirá-lo dali, como se fosse uma homenagem póstuma, uma aproximação, ao cão que por toda a vida tinha afastado todos de si. Cobri o cão com um lençol e a partir daí o incomodo melhorou. A dor diminuiu. Até agora não sei bem ao certo se fiz isso pra não ver o cão ou se o fiz para não ME ver no cão. Esse é o grande problema com a morte: há uma empatia involuntária.
Continuei sendo forte e comecei a movê-lo. Meu irmão saiu do choque e me ajudou. Pusemos um saco de lixo na cabeça, em direção ao rabo. E depois outro, no rabo em direção à cabeça, para selar o corpo. Olhei para o corpo. O cão no saco preto. Um dia todos seremos isso: uma massa rígida dentro de um saco preto.
Fui forte, comemorei. Fui forte. Ajudei meu irmão a levar o cão morto pra um veterinário, onde seria incinerado. Fui forte.
Cheguei em casa e fui logo dormir. Com a cabeça no travesseiro, me ocorreu que eu não havia fechado os olhos do cão. Sepultado de olhos abertos.
Seja forte, seja forte. Não consegui.
Lembrando de olhos eternamente abertos, o peso mórbido da morte me atingindo, fiquei com meus olhos abertos até tarde da noite.
Meu travesseiro ficou lavado de lágrimas.
Essa foi a notícia que recebi quando cheguei em casa, vindo do trabalho. Fiz algumas perguntas vagas, como se a minha displicência fosse me afastar de algum modo da consciência do fato. Foi em vão. Ficamos imersos na morte do cão.
Aí chegou o amigo do meu irmão, chamado exclusivamente para ajudar a carregar o cadáver do cachorro. Algumas introduções, algumas piadas, o convite. A resposta? "Desculpa, não vou por a mão nele não".
Meu irmão foi até a casa do cão com uma lâmpada, para ajudar a iluminar o local. Voltou logo. "Não vai dar, não vou conseguir, é muito triste" voltou ele dizendo, derrotado.
De repente, eu cansei. "Vamos lá então", disse eu. (Seja forte, seja forte...)
Na casa do cão, quando a luz quebrou a escuridao, lá estava ele. Era um Pit-bull, cara ameaçadora, dentes afiados, desconfiança plena de tudo e de todos. Mas já não era nada disso. Os olhos opacos eram meigos como nunca tinham sido em vida; as patas encolhidas, a boca aberta, os olhos apreciando infinitamente o asfalto.
(Seja forte, seja forte).
Dei um passo à frente. Me animei com a perspectiva de retirá-lo dali, como se fosse uma homenagem póstuma, uma aproximação, ao cão que por toda a vida tinha afastado todos de si. Cobri o cão com um lençol e a partir daí o incomodo melhorou. A dor diminuiu. Até agora não sei bem ao certo se fiz isso pra não ver o cão ou se o fiz para não ME ver no cão. Esse é o grande problema com a morte: há uma empatia involuntária.
Continuei sendo forte e comecei a movê-lo. Meu irmão saiu do choque e me ajudou. Pusemos um saco de lixo na cabeça, em direção ao rabo. E depois outro, no rabo em direção à cabeça, para selar o corpo. Olhei para o corpo. O cão no saco preto. Um dia todos seremos isso: uma massa rígida dentro de um saco preto.
Fui forte, comemorei. Fui forte. Ajudei meu irmão a levar o cão morto pra um veterinário, onde seria incinerado. Fui forte.
Cheguei em casa e fui logo dormir. Com a cabeça no travesseiro, me ocorreu que eu não havia fechado os olhos do cão. Sepultado de olhos abertos.
Seja forte, seja forte. Não consegui.
Lembrando de olhos eternamente abertos, o peso mórbido da morte me atingindo, fiquei com meus olhos abertos até tarde da noite.
Meu travesseiro ficou lavado de lágrimas.
09 novembro, 2009
Retornando com um Tapa de Realidade
“Eu sou um brinquedo caro e você, uma criança pobre”.
- nick no MSN.
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