Certo. São Paulo, 25 de maio, parada gay. A avenida estava lotada. Os corações também.
Alguns alegam que a parada é um circo, outros dizem que é fútil e sem propósito. Eu acho que a parada é um ritual. Essas são pessoas que têm de se esconder o dia todo, porque seu emprego e suas amizades podem estar em risco caso vaze a verdade. Então levam pra casa a amargura que pulsa nas veias e lá também têm de se esconder, porque o amor de alguns pais é leve, mas instável. Na rua? Skinheads, e punks. E veja bem, zelar pela própria segurança é um instinto animal.
E então, dia 25 de maio, essas pessoas, essas almas marcadas, podem sair e se tornar quem são. É a hora de elas descobrirem que existem. Umas vendo nos olhos as cicatrizes que as outras guardam lá dentro.
E o sol, impiedoso, fazendo festa no céu e mandando luz e calor, queimando, ardendo. E é esse exatamente o ritual: queimar as cicatrizes lá de dentro, tentar torná-las apenas manchas, ou escondê-las sob o bronzeado. É um arder ao avesso, que refresca e liberta.
Por isso deixe que queimem. Que queimem todo o ódio e o rancor e as mágoas e as MARCAS e que, com o corpo em brasa, porém intacto, descubram por baixo pele dilacerada, aquilo que são quando as cicatrizes não estão lá.
Quando a luta é por respeito, a luta não é dos gays. A luta é de todos nós.
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