04 julho, 2008

Eu sempre morro

Nada é tão desgastante e injusto do que se empenhar em uma batalha perdida. E o pior é que você só percebe que é perdida na metade do caminho.

Ontem eu vi a face da derrota. Olhei nos olhos frios de seu rosto fino e neles li que a batalha estava perdida; que nada eu podia fazer; que não dependia de mim. E durante o instante em que tomava consciência dessa verdade concebida, ficamos fitando um os olhos do outro. As pupilas da derrota, frias como o rosto, eram carregadas de desprezo e dó. As minhas estavam carregadas de lágrimas, invisíveis, que eu queria chorar. Ela percebeu.

Como é de costume, a derrota veio se aproximando, seu corpo mirrado cada vez mais perto do meu, culminando num abraço, as mãos firmes em volta dos meus braços. Então senti o já conhecido tombo. As pernas falharam, caí para trás, sozinho e afundei num chão de concreto que mesmo intacto se partiu para me receber.

Ali, deitado na vala que o universo criou pra mim, continuei a fitar os olhos da derrota, que agora mostravam ainda mais dó. Mais uma vez via a derrota de baixo. E ali eu mais uma vez morri, tendo como última visão as pupilas frias daquela me enterrava.

Eu morri, mas continuei vivo. Porque cada pequena derrota é um grande adeus e um pequeno falecimento: morre a vontade de tentar, o sonho de vencer.

Mas não é sempre que a derrota me abraça. Às vezes eu envolvo meus braços sobre ela e a vejo cair para trás e a fito lá embaixo, lá de cima. E então ela morre. E volta a viver.

E é assim que passo a vida, ora abraçando a derrota, ora sendo abraçado por ela. Mas em um quesito ela é invencível: quando estou embrenhado em uma batalha perdida, Ela me esbofeteia com suas mãos feitas de VERDADE (a verdade é sempre um tapa na cara) e eu sempre perco, ela sempre ganha.

Eu sempre morro.

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