31 julho, 2008

the sexes in the city

São Paulo é uma cidade gigante e lotada. Cheia de mulheres independentes, sem filhos e com carreiras sólidas, que dedicam-se cada vez mais a si mesmas. Estas são mulheres sozinhas. Sozinhas não, solteiras. "Sozinhas nunca", elas dizem.

Tá.

Os homens, desde sempre independentes, continuam a evitar os filhos e são protagonistas de carreiras ilustres e promissoras. Estes sim, estão sempre compromissados. Detalhe: compromissados com mais de uma mulher (ou homem). Quem é casado, tem amantes (no plural). Quem namora, extras. Os solteiros, têm rolos. E, pra fechar com chave de ouro, os enrolados têm casos. Outro detalhe: eles sempre vão negar essas informações e à vista de uma mulher (ou homem) bonita(o), parecem se transformam magicamente em seres solteiros e perfeitamente disponíveis.

O fato é que o compromisso morreu e ninguém nos avisou quando foi o enterro. Se apaixonar virou brega, manter a palavra se tornou deselegante e querer trazer alguém pra sua vida faz de você uma pessoa grudenta. O "Nossa, que mulher elegante!" caiu por terra. Agora é só "Parece a mulher melancia". O nível desceu ao patamar da exigência e está tudo ok no fundo do poço.

Os homens não se prendem. Foram e ainda são ensinados a suprirem-se por si só. E aprenderam. Estão em vários relacionamentos porque não se satisfazem com nenhum. Eles se deslumbram com a beleza, com os gestos e com o jeito alheio, mas não se apaixonam - não se deixam levar. Em tempo. Apaixonar-se dá trabalho. Tem que dar respaudo, satisfação, tem que fazer esforço pra manter o contato, tem que lutar contra o desejo de ver o outro a todo momento. Gostar é um eterno deixar levar e se segurar, deixar levar e se segurar. É um ritual cansativo. E o cansativo não é prático. Ser prático é ser superficial.

É mais fácil mentir, decepcionar e silenciar. É fácil beijar, dizer que vai ligar e não ligar. Esse é um mundo de mentiras e para fluir melhor é preciso ser o mais mentiroso possível. Se esconder atrás do excesso de trabalho ou da pouca quantidade de dinheiro é mais conveniente. E o sexo...os homens respiram sexo. É tudo que eles pensam, é pra isso que mentem, que decepcionam...é nele que se perdem.

O fato é que o compromisso morreu. E quem assumiu o trono foi o sexo. São Paulo é uma cidade cheia. Cheia de mulheres ansiosas pela compania que não seja a delas mesmas, pra variar. Cheia de homens dispostos a ser a compania temporária do maior número de mulheres possível. Elas se encontram e sua felicidade dura o tempo de uma ejaculação.

Mas lembre-se: São Paulo é uma cidade lotada. E é cheia também de pessoas que querem mais. Gente ávida por sentimentos mais profundos e por envolvimento mais sólidos. O mundo não é feito para essas pessoas, sem dúvida. Parafraseando Bolaños, essas são as pessoas que sofrem mais, porém são as que vivem mais. Elas acham que sempre haverá alguem mais jovem, maquiada e mais bonita que vai roubar os olhos da pessoa que ela quer. Talvez.

Mas talvez o homem olhe para a menina e repare: "essa jovem exagerou no blush". Talvez para ele - porque isso é verdade para alguns poucos - atitude seja mais importante que beleza e autenticidade seja tão bacana quanto a sutileza.

O compromisso realmente morreu, mas só para aqueles que desistiram dele.

Não desista.

Viva.

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