22 janeiro, 2009

Hipócritas

Somos todos hipócritas.

'Não julgo ninguém', 'Quem sou eu pra dizer qualquer coisa?', 'Eu sou a pessoa menos indicada pra te dar qualquer conselho'. Mentira, mentira e mentira.

Todos julgamos. Analisamos, comparamos e tiramos conclusões. O que os nossos olhos vêem é julgado pelo nosso cérebro a todo instante. Das roupas das pessoas que passam na rua (são de Marca ou não?) ao tamanho do nariz do Luciano Huck.

Julgamento.

A questão não é que eu não julgo. A questão é não levar esse julgamento a sério. Não ser hipócrita é desprezar o próprio julgamento. Porque uma roupa de Marca não significa melhor caráter e de que importa o tamanho do nariz do Luciano Huck se ele é capaz de fazer a mulher dele feliz? Maturidade é atropelar o julgamento automático emitido pelo cérebro, se permitir colher mais informações, que serão base de novos julgamentos, que por sua vez serão - alguns - novamente descartados.

Dobrar a hipocrisia é complicado e trabalhoso. É mais fácil assistir uma novela onde uma mulher é espancada em praça pública por cometer adultério. É mais cômodo concordar e aplaudir.

É Maria Madalena 2000 anos depois. E ela continua a ser apedrejada.

Mas suponho que isso seja uma peça do nosso cérebro. Porque quando você repudia alguém, não pode se colocar no lugar dela. O repúdio implica afastamento. E ninguém quer ser Maria Madalena.

Ainda assim, há milhares de adúlteras que concordaram com a novela: 'ela traiu, é bem feito que apanhe em praça pública'. Algumas disseram isso só pra não discordar da maioria. Outras, por acreditarem que era um castigo justo que elas próprias mereceriam um dia.

Hipócritas ridículas. Novela ridícula.

A hipocrisia é fruto do medo. Medo do real. Medo de lutar.

Eu sou um hipócrita, assumo. Mas luto todos os dias pra deixar de ser, pra ser um pouco menos. Sou um hipócrita, mas há 2000 anos atrás, em praça pública, eu teria dobrado meus braços, cerrado meu punho e fechado minha mãos sobre pedras que eu, então, jogaria de volta em quem as atirara.

Estaríamos do lado de cá da linha, eu, Maria Madalena e Jesus. Contra o mundo.

Da mesma maneira que estamos agora.

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