Segundo o Dicionario Michaelis:
tran.se.xua.lis.mo
(cs) sm (transexual+ismo) Psiq Desejo que leva a pessoa (geralmente homem) a querer pertencer ao sexo oposto, passando mesmo a adotar os trajes do outro sexo ou a se submeter à cirurgia visando uma transformação sexual.
E eu acrescentaria à descrição acima [...]adotar os trajes e 'gestos' do outro sexo [...].
O fato é que o transex do ônibus era um transex inegável. Um homem, de traços bem masculinos, com longos cabelos pretos, gestos delicados e unhas compridas pintadas de vermelho. Um vasto mar de contrastes em uma pessoa só.
Nesse dia, o ônibus estava cheio, mas apesar disso eu estava sentado. O transex estava de pé. E foi aí que tudo aconteceu.
O assento à direita do transex vagou. Na frente do assento estava um senhor de idade, lá na casa dos seus 60 anos. Ele não sentou. Com a mão direita, apontou primeiro para o transex e então, para o banco vazio. O velhinho convidou o transex a sentar em seu lugar.
Um senhor de 60 anos, que na minha cabeça era conservador, tinha mil razões pra ser. Ignorou todas. Preferiu ser gentil.
O transex sentou-se, com a felicidade de uma criança estampada no rosto.
Eu olhei para o senhor durante algum tempo. Ele olhava para a janela a sua frente, fazendo sua viajem de pé. Os seus lábios carregavam um sorriso de satisfação.
E então minha surpresa caiu em forma de lágrimas.
Imaginei o que seria viver trancado dentro de um corpo que não me fazia feliz. Imaginei mudar de corpo, me moldar, isso tudo aos olhos (e às críticas) de quem quisesse ver . Seria difícil, concluí. Muito difícil. E imaginei como seria encontrar num ônibus uma pessoa que entendesse e me reconhecesse como sendo aquilo que eu tão avidamente desejava me tornar. O novo e o velho, num respeito e compreensão quase inexplicáveis.
Às vezes é nos ônibus, e não nos bancos escolares, que aprendemos lições que a gente leva pra toda a vida.
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