04 fevereiro, 2009

Alcova

Eu, quando morrer, quero doar meus órgãos. Do silêncio do meu túmulo, quero ouvir gritos de viva, gritos de vida. E pretendo estar presente em espírito quando meus olhos permitirem que outros olhos, antes estéreis, enxerguem. Quero ver a expressão nos olhos que vêem pela primeira vez, ou que enxergam pela primeira vez depois de muito tempo.

Quero me emocionar com essa imagem. Tenho certeza que nesse momento chorarei com os olhos que já não possuirei.

E sepultado sob lágrimas de alegria de pessoas que ajudei sem conhecer, quero que seus sonhos realizados tornem-se memórias póstumas da minha vida recém-finda.

Quero minha alcova perfumada de sonhos alcançados.

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