01 fevereiro, 2009

Sonho vs Lembranças do passado

Ajudei uma pessoa a realizar o maior sonho de sua vida. Algumas pessoas sonham ter uma casa própria, um carro, um amor - todas coisas difíceis de se alcançar e/ou de serem presenteadas com elas. Essa pessoa não. Ela queria um celular.

Fui entregar o presente a domicílio, pra garantir a rapidez de chegada. Entreguei a sacola. Ela abriu, retirou a pequena caixa e aí meu coração ficou na mão: ela começou a chorar. Derramou lágrimas como criança. "Ganhei o que mais queria. Não acredito, não acredito" era o que dizia.

Fiquei comovido. O celular nem era tudo isso, era dos mais simples: só tinha rádio FM de diferencial. Mas não importava. Pra ela, era o melhor aparelho celular do mundo.

Eu nunca tinha ajudado alguém a realizar um sonho. É sensacional.

Me fez lembrar de uma ocasião, quando eu era criança, em que eu havia pedido de aniversário à minha mãe um video-game Master System. No dia, minha mãe veio se desculpar dizendo que não tínhamos dinheiro pro que eu queria e ela tinha comprado um éle-pê da Xuxa no lugar. Não consegui negar meu desapontamento. Para as crianças, os adultos são as únicas armas pra alcançar seus sonhos. Olhei pra Xuxa na capa do disco, ela continuava a sorrir pra mim, estática. Afeiçoei-me ao presente, conformado.

Mais tarde, durante a festa, depois de cantarmos o parabéns, minha mãe se aproximou de mim com uma caixa enorme, quadrada. Ela não precisou falar. Entregou a caixa a mim, esperando minha reação. Não contive as lágrimas. Chorei como um bebê. Todos tentavam me consolar, tentando entender o que acontecia. Mas era um choro de alegria e esses, ninguém consegue estancar.

Chorei por vários minutos. Levantei. Dei um abraço forte na minha mãe, daquele tipo que você só dá pra pessoa que mais ama no mundo. Ela retribuiu e vi que seus olhos também estavam marejados. Corri pra sala pra ligar o aparelho na tv. Joguei horas seguidas. À noite, depois de todos terem ido embora, minha mãe sentou-se comigo no sofá. É uma das coisas mais agradáveis da terra ter sua mãe sentada ao seu lado te observando jogar video-game, pelo simples prazer de estar ali sentada com você. Convidei-a para jogar comigo. Ensinei os comandos. Ela se deu bem, inventou apelidos para as ações do personagem no jogo. Me diverti muito. Muito mesmo.

Aquele dia ganhei da minha mãe um LP e um video-game. Hoje já não tenho nem um, nem o outro. Nem sequer estou certo de que ainda tenha uma mãe. Mas não importa. Aquele dia, eu soube como é ter um sonho realizado. E só quando fiz o mesmo, pude perceber a intensidade do que minha mãe sentira naquele dia. Não conheço qualquer sentimento que se compare.

Então, com a liberdade de que disponho, faço a ousadia de pedir-lhe duas coisas:

1. Ame a sua mãe. Com suas limitações e defeitos. Ela sempre vai povoar as suas lembranças. Garanta que sejam lembranças felizes.

2. Ajude alguém, em algum ponto da sua vida, a almejar alguma coisa que essa pessoa não consiga sozinha.

Dizem que pouco antes de morrer, nos momentos agonizantes finais, passa na nossa cabeça o filme das nossas próprias vidas. Quando eu estiver assistindo a esse filme, quero chorar lágrimas de felicidade, de emoção. Quem sabe até o homem Jesus não chore um pouquinho também. Quem sabe ele aplauda quando o meu filme terminar.

É...quem sabe.

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