21 abril, 2009

Confiando (Portas e Pregos)

Possibilidades são tentadoras seduções. A superlotação de cidades como São Paulo, traz forte concorrência, o que desencadeia deslealdade, corrupção. Ninguém sabe o que é capaz de fazer para continuar no páreo. E isso gera um problema moral silencioso e letal: ninguém confia em ninguém.

A gente passa achar que todos estão mentindo, que nada é o que parece, que há sempre uma intenção por trás: o mendigo pedindo esmola se transforma num assaltante em potencial, o colega de trabalho solícito com certeza deve ter algum interesse em me ajudar assim, a pessoa de quem eu gosto demora 1 hora a mais pra chegar em casa e pronto: não é o trânsito, é um caso. Com certeza um caso. Existe tanta gente mais bonita do que eu. Mais legal que eu. Por que ela ficaria comigo? Por que ele me amaria?

É a sinfonia doentia e paranóica do medo de confiar ecoando sem parar.

Às vezes a gente teima e continua acreditando. Acredita se preparando para o pior. Nesse caso não estamos sendo corajosos, mas sim ingênuos e falsos, porque a precaução é uma desconfiança.
Que jeito? Qual a alternativa? As portas têm muita confiança nos pregos dos batentes e por isso acabam indo parar no chão com muita frequência. Em alguns casos, desconfiar é sobreviver.

E atente: sobreviver É subexistir. Se você quer desfrutar plenamente dessa existência, você vai ter que se desprender dos nós que te atam às suas mágoas e das correntes que te prendem aos seus medos. Só a liberdade de ser você mesmo é capaz te trazer coragem. Confiar é se entregar sem limites, sem amarras. Confiar é arriscar por querer. Só quem é livre consegue confiar.

Então se você tem alguém na sua vida que você acha que mereça, pare de desconfiar. Aceite que a mentira é comum, mas que a verdade também está lá fora. Confie, ainda que pareça errado ou que você se sinta ingênuo. Confie, ainda que doa. Porque as pessoas percebem quando têm o seu respaldo e é a isso que elas respondem com os atos delas.

E quando observar as portas que estão ao chão, observe que os pregos que a seguravam, a quem ela culpa, também estão lá, caídos. Talvez eles tenham tentado suportar ao máximo o peso da madeira e não conseguiram. Talvez eles estejam lá apesar de terem lutado bravamente.

E acima de tudo, lembre-se que quando você tomba, você pode se içar novamente, que os pregos que te prendem, uns estão lá, frouxos; outros são tão firmes que suportarão a madeira por toda a eternidade. E por fim, nunca se esqueça: você não é uma porta.

Ao menos, não precisa ser.

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