14 julho, 2009

O Mendigo

Estava eu fazendo uma rota alternativa pra verificar o melhor (mais rápido) caminho pra chegar em casa quando um mendigo me para pra pedir ajuda.

"Lá vem", pensei.

O rapaz usava roupas simples, mas tinha uma boa dicção. Dava pra notar que tinha tido o mínimo de instrução.

Ele me pediu ajuda pra comprar um prato feito. Vi que levava uma sacola, daquela que o pessoal usa pra cheirar cola.

Eu disse que não tinha dinheiro. Resolvi ser sincero e disse que tinha começado a trabalhar há pouco, que ainda não tinha recebido.

A expressão dele mudou. Ele disse que estava feliz por mim. Perguntou se não era como tirar um peso das costas, o que eu prontamente assenti. Ele perguntou meu nome e me deu o dele: Marcelo.

Comentou como estava difícil arrumar emprego, que ele fazia uns bicos de vez em quando. E falou como as pessoas tinham preconceito. Olhei pra ele e ele era negro. Não sei bem se ele se referia ao preconceito por ser negro ou por ser pobre. Talvez os dois. Me desejou sorte no emprego novo. Eu desejei o mesmo a ele, incentivei.

"Uma porta vai se abrir", afirmei.

"Eu sei. Eu não vou desistir" disse ele.

Se despediu, apertou a minha mão e partiu com direito a dizer meu nome e tudo.

O tempo estava frio mas quem me congelava era a culpa. Eu tinha o dinheiro para o Marcelo comprar o prato feito dele. Me arrependi por ter dito que não. Às vezes a gente tece as teias pros outros caírem, mas quem acaba sendo picado somos nós mesmos. No caso, a picada doeu muito.

E quando eu fui embora, a última imagem que vi foi um casal dando uma moeda pra ele e Marcelo feliz da vida, agradecendo com acenos de mão e sorrisos.

Me perguntei como poderia ajudar o pobre Marcelo.

Fiz uma oração pra ele.

A favor do Marcelo negro, pobre e discriminado.

E acima de tudo, contra a crueldade e a injustiça que dominam o mundo.

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