01 janeiro, 2009

vamos embora viver

Essa semana no metrô vi um corpo caído. É estranho ver um punhado de carne imóvel de um lado, muletas do outro. A gente não sabe ao certo se é a vida que estava ao chão, ou se é a morte que estava.

Eu estava atrasado. Não parei. E enquanto dava passos rápidos pra onde devia ir, observei outras pessoas (cujos compromissos não eram tão urgentes ou cujos sentimentos não eram tão engoístas) pararem para erguer o corpo.

O fato é que pensei por um momento: e se fosse eu, ao chão? E se eu caisse duro no caminho pro destino no qual eu tão ansiosamente desejava chegar? Alguém pararia pra me ajudar? E mais: eu merecia que alguém desistisse de todos os compromissos pra me ajudar?

E a resposta foi 'sim'. Acho que eu mereço, que alguém me ajudaria.

E aí a próxima pergunta escapou: se você morresse no metrô, você morreria feliz?

A resposta foi 'não sei'. Me arrependo de pouco que fiz, isso em si é um fragmento de felicidade. Mas ainda existem coisas interessantes que não fiz, coisas importantes que não disse, experiências excitantes que não tive a oportunidade de viver.

Eu choraria por mim no meu velório.

Mas a vida está em mim. Ando de mãos dadas com ela, até quando Deus quiser.

O que acho curioso é como a morte mexe com a gente.

Quem vê a morte, se coloca no lugar dela, se imagina sem vida e é aí que a mente inunda de dúvidas. Quem vê a morte, falece, ainda que por um segundo. É aquela sensação ruim que dá.
Do mesmo jeito que quem vê uma criança nascendo, sente aquela sensação agradável, talvez uma lembrança instintiva do que é se libertar para o mundo.

Mas ainda não morri, não morremos.

Então vamos embora viver.

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