18 junho, 2009

Julgamentos, perdões e o sofrimento atropelado

Dia desses fui fazer uma entrevista. O ponto de ônibus é no pé de uma ladeira, o que equivale dizer que do ponto de ônibus tem-se uma vista clara da ladeira acima.

Pois bem.

Estava eu aguardando a chegada do ônibus, quando vi uma aglomeração mais acima na ladeira. a uns 50m de distância de mim.

Não enxergo bem, só vi que o fluxo de carros havia parado. Forçando a vista, enxerguei um rapaz arrastando pelas extremidades um corpo para a calçada.

"Nossa. Que horror. Uma pessoa foi atrolada" pensei. Mas ninguém arrasta um corpo humano pelos pés. Quando o corpo chegou na calçada, eu vi: era um cachorro.

Fiquei vagueando pelos pensamentos, ora irritado com o motorista que atropelou o cão, ora com a pessoa que arrastou o animal, ora com o próprio cão por ter morrido.

Depois caí em mim que o cão podia ser daqueles que corre atrás dos carros e que o motorista não teve culpa. Depois, o corpo não podia ficar na rua então o homem que o arrastou fez bem e por fim, talvez o cachorro não quisesse causar a sua própria morte. Quem quer?

Por 15 minutos eu julguei e castiguei cães e pessoas que eu sequer conhecia.

Então meu pensamento desanuviou. Num segundo, perdoeei os que provocaram a morte, os que carregaram o corpo, os que morreram e aproveitei e também pedi perdão por mim mesmo.

Aí fiz a única coisa que eu podia fazer (e a única que eu devia ter feito):

Fiz uma oração.

Os cachorros, os motoristas e os carregadores de corpos subiram com minha reza pro céu.

E eu subi no ônibus pra ir pra minha entrevista.

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